Aquele desconforto persistente após as refeições pode ser mais do que uma simples indigestão. Saiba como identificar os sinais.

Aquela refeição mais gordurosa no fim de semana termina com um desconforto familiar: uma dor persistente no lado direito da barriga, acompanhada de inchaço e um certo enjoo. Muitas vezes, esses sinais são atribuídos a uma má digestão passageira, mas podem indicar que sua vesícula biliar está pedindo atenção.

A colelitíase, popularmente conhecida como pedras na vesícula, é a doença benigna da vesícula biliar mais comum no mundo. Ela frequentemente pode levar a complicações como cólica biliar, inflamação da vesícula (colecistite) ou obstrução dos ductos biliares.

O que é a vesícula biliar e qual sua função?

A vesícula biliar é um pequeno órgão em formato de pera, localizado sob o fígado. Sua principal função é armazenar e concentrar a bile, um líquido produzido pelo fígado que é essencial para a digestão de gorduras no intestino.

Quando você consome alimentos gordurosos, a vesícula se contrai para liberar a bile no intestino delgado, auxiliando na quebra dessas gorduras. Problemas surgem quando algo interfere nesse processo, seja por obstruções, inflamações ou distúrbios de funcionamento.

Quais são os principais sintomas de problema na vesícula?

Os sintomas podem variar em intensidade, mas geralmente estão associados ao sistema digestivo, manifestando-se de forma mais evidente após as refeições. A seguir, detalhamos os sinais mais comuns.

1. Dor abdominal súbita e intensa

Este é o sintoma mais característico, conhecido como cólica biliar. A dor abdominal é um sintoma altamente prevalente em doenças da vesícula, afetando 62,5% dos pacientes com cálculos biliares isolados. Ela geralmente se manifesta da seguinte forma:

• Localização: no lado superior direito ou no centro do abdômen, logo abaixo das costelas.

• Irradiação: a dor pode se espalhar para as costas, na altura da omoplata direita, ou para o ombro direito.

• Intensidade: varia de moderada a muito intensa e pode durar de minutos a várias horas.

2. Náuseas e vômitos

A sensação de enjoo é bastante frequente, especialmente durante uma crise de dor. Os vômitos podem ocorrer em conjunto, proporcionando um alívio temporário do desconforto, mas não resolvem a causa do problema. Problemas na vesícula biliar, especialmente quando há obstrução, podem causar vômitos agudos.

3. Sensação de inchaço e excesso de gases

Muitas pessoas relatam sentir o abdômen estufado, como se estivessem "cheias" mesmo sem comer muito. A produção excessiva de gases e arrotos frequentes também são comuns, pois a digestão de gorduras está comprometida.

4. Alterações na cor das fezes e da urina

Quando o fluxo de bile é obstruído, podem ocorrer mudanças visíveis:

• Fezes claras ou esbranquiçadas: a bile é responsável pela coloração marrom das fezes. Sua ausência no intestino torna as fezes pálidas (acolia fecal).

• Urina escura: o excesso de bilirrubina, que não consegue ser eliminado pela via digestiva, é excretado pelos rins, deixando a urina com uma cor de chá-mate ou Coca-Cola (colúria).

5. Diarreia crônica

A dificuldade em digerir gorduras pode levar a episódios de diarreia, especialmente após refeições ricas nesse nutriente. As fezes podem parecer mais gordurosas e ter um odor mais forte.

6. Gosto amargo na boca

O refluxo de bile para o estômago e esôfago pode causar um gosto amargo persistente na boca, além de azia e queimação que não melhoram com antiácidos comuns.

Quando os sintomas indicam uma emergência médica?

Alguns sinais indicam complicações graves, como uma inflamação aguda (colecistite) ou uma obstrução completa dos ductos biliares. Procure atendimento médico de urgência se a dor abdominal for acompanhada por:

• Febre alta e calafrios: sugerem um processo infeccioso ou inflamatório agudo.

• Icterícia: coloração amarelada da pele e da parte branca dos olhos. Esse sinal agudo indica o acúmulo de bilirrubina no sangue, frequentemente causado por uma obstrução e que exige atenção médica imediata.

• Dor insuportável: quando a dor é tão intensa que impede a pessoa de encontrar uma posição confortável.

• Confusão mental ou aceleração dos batimentos cardíacos.

Esses sintomas de alerta não devem ser ignorados, pois podem evoluir para condições mais sérias que necessitam de intervenção imediata.

Quais são as principais causas desses sintomas?

Diversas condições podem afetar a vesícula biliar. As mais comuns incluem a formação de cálculos, inflamações e problemas de funcionamento do órgão.

Cálculos biliares (colelitíase)

A causa mais frequente de problemas na vesícula é a formação de pedras, compostas principalmente de colesterol ou bilirrubina. É importante saber que a maioria das pessoas com cálculos biliares, cerca de 80%, não apresenta sintomas durante a vida. No entanto, 20% pode sentir uma dor intensa, conhecida como cólica biliar aguda, quando uma pedra se move e bloqueia o fluxo da bile.

Inflamação da vesícula (colecistite)

Geralmente, a colecistite ocorre como uma complicação da colelitíase, quando um cálculo bloqueia o ducto cístico de forma prolongada. Isso leva a um acúmulo de bile, aumento da pressão interna e inflamação da parede do órgão, podendo causar uma infecção bacteriana secundária.

Discinesia biliar (vesícula preguiçosa)

Nesta condição, não há pedras, mas a vesícula não se contrai de maneira eficiente para liberar a bile. É interessante notar que um terço dos pacientes com cálculos na vesícula (colelitíase) também apresenta distúrbios de motilidade. Isso significa que, mesmo com pedras, o órgão pode ter dificuldade em se contrair e esvaziar a bile de forma adequada, intensificando os sintomas.

Que alimentos podem piorar os sintomas da vesícula?

Alimentos com alto teor de gordura são os principais gatilhos para os sintomas, pois exigem mais trabalho da vesícula biliar. Pacientes com problemas no órgão costumam sentir piora do quadro ao consumir:

• frituras em geral;

• carnes gordas, como picanha, costela e cupim;

• embutidos, como linguiça, salame e bacon;

• laticínios integrais, como queijos amarelos e creme de leite;

• alimentos ultraprocessados.

A moderação no consumo desses itens pode ajudar a aliviar os sintomas enquanto se busca um diagnóstico preciso.

Como é feito o diagnóstico de problemas na vesícula?

O diagnóstico correto é essencial e deve ser conduzido por um médico, geralmente um gastroenterologista ou cirurgião do aparelho digestivo. Após a avaliação clínica e o exame físico, o profissional pode solicitar exames de imagem.

O ultrassom de abdômen é o método mais comum e eficaz para visualizar a vesícula, identificar a presença de cálculos, avaliar a espessura de suas paredes e verificar a dilatação dos ductos biliares. Em casos mais complexos, outros exames como tomografia computadorizada ou ressonância magnética podem ser necessários.

Este conteúdo tem caráter informativo e não substitui avaliação médica. Em caso de dúvidas, procure um especialista habilitado.