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Ortopedia

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O que a LER e DORT, doenças relacionadas ao trabalho, podem causar?

Casos de LER e DORT aumentaram 184% nos trabalhadores brasileiros em 10 anos. Saiba mais sobre esses problemas no site do Grupo Leforte.
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Equipe Leforte - Equipe Leforte Atualizado em 23/02/2022

LER e DORT são as doenças que mais afetam os trabalhadores no Brasil, segundo levantamento do Ministério da Saúde publicado em 2018. Nos 10 anos que o estudo abrange, foram registrados mais de 67 mil casos e o índice aumentou 184% no mesmo período. Para falar sobre o assunto, o Grupo Leforte convidou o Dr. Lucas Miotto José, que é médico ortopedista, especializado em coluna vertebral.

LER e DORT – existe diferença entre LER e DORT?

DR. LUCAS MIOTTO JOSÉ – os termos lesão do esforço repetitivo (LER) e distúrbio osteomuscular relacionado ao trabalho (DORT), às vezes, são tratados como sinônimos e estão relacionados à prática da medicina do trabalho. Muitos pacientes que apresentam esse diagnóstico sofrem de complicações e dores devido a processos inflamatórios relacionados aos afazeres cotidianos do trabalho deles, pois fazem movimentos com uma certa repetição e isso, com uma musculatura não preparada, vai gerar dor.

LER e DORT – quais os distúrbios osteoesqueléticos e/ou lesões mais frequentes dentro dessas denominações?

DR. LUCAS MIOTTO JOSÉ – os distúrbios mais frequentes são as tendinites, principalmente de punho. Elas são relacionadas a esforços repetitivos no membro superior e o ombro também pode ser acometido. Um exemplo de ocupação em que frequentemente isso acontece é em caixas de supermercado, pois fazem os mesmos movimentos durante várias horas por dia.

Também é comum em pessoas que trabalham digitando, atividade em que se utiliza os extensores do punho de forma frequente. Muitas vezes elas são acometidas por uma descompensação entre a força do tendão, a força atual dele, e o quanto de fadiga o grupo muscular consegue aguentar durante a jornada de trabalho.

LER e DORT – o afastamento do trabalho por algum tempo para tratar problemas decorrentes de esforço repetitivo é sempre necessário?

DR. LUCAS MIOTTO JOSÉ – o afastamento do trabalho depende da condição clínica do paciente no momento. Aqueles com muita dor aguda podem ter que ficar alguns dias em casa. Mas, os que já tentaram fazer uma medicação inicial, como anti-inflamatório, já tentaram algumas terapias enquanto estavam na jornada de trabalho e mesmo assim não têm boa resposta, às vezes, ficar afastado pode ser uma boa saída para tentar tirar a inflamação do grupo muscular afetado e tentar fortalecê-lo.

Dessa forma, quando voltar à jornada, que terá a mesma carga de repetição de movimentos, esse grupo de músculos poderá não entrar em fadiga tão rápido e, assim, não iniciar um processo inflamatório, que causa dor e sofrimento ao paciente.

LER e DORT – como é feito o diagnóstico e como esses distúrbios são diferenciados de outras lesões/doenças com sintomas semelhantes?

DR. LUCAS MIOTTO JOSÉ – o diagnóstico desse tipo de lesão é feito, basicamente, com um bom exame clínico, uma conversa com o paciente para saber quais são os picos da dor dele e como funciona o mecanismo dessa dor: se tem relação com o trabalho dele, se ele sai da jornada de trabalho com piora da dor, se no dia em que fica um pouco mais de repouso a dor melhora. Dessa forma, é possível estabelecer a relação.

Um exame importante que podemos fazer, como essas dores são em partes moles do corpo – tendões, inserções de grupos musculares -, é o de ultrassom, que é rápido, prático e barato. Ele permite ver se há algum líquido na bainha dos tendões, algum edema no interstício da região afetada. Outro exame é a radiografia, que vai mostrar mais as alterações osteoarticulares. Normalmente, é feita para as doenças mais graves, com mais tempo de acompanhamento.

Mas o exame padrão ouro é a ressonância magnética, onde se consegue ver tanto a estrutura óssea como a muscular, ligamentar, fáscia subcutânea e pele. Com a ressonância, conseguimos ter uma melhor evidência com melhor sensibilidade e especificidade para as lesões de esforço repetitivo, como a tendinite.

LER e DORT – quais os principais tratamentos da pessoa diagnosticada com LER/DORT? É necessário afastamento ocupacional?

DR. LUCAS MIOTTO JOSÉ – na minha prática clínica, eu acabo levando em conta para tratar o paciente o que ele poderia fazer para diminuir um pouco a função dele e tentar melhorar a força do grupo muscular que está afetado. Então, é necessário que esse paciente diminua um pouco a carga de repetição do movimento. Caso seja possível, ficar parado alguns dias se o grau de dor estiver muito forte.

As imobilizações, como talas gessadas e tipoias, normalmente são só para crises agudas, devendo ser mantidas por um, dois ou três dias no máximo. Um tratamento de fisioterapia deve ser iniciado o quanto antes. Normalmente, técnicas com fisioterapia analgésica utilizando infravermelho, ultrassom e técnicas de manipulação, como a liberação miofascial (pressão sobre o local da dor realizada manualmente ou com o uso de rolos), podem garantir algum alívio da dor e diminuição do edema nessas lesões.

A grande maioria dos casos não precisa evoluir para algum outro tratamento depois dessas terapias. Caso elas não tenham sucesso inicial, algumas infiltrações à base de corticoide também podem ajudar.

LER e DORT – é possível desenvolver alguma lesão grave ou permanente caso a pessoa não busque tratamento médico?

DR. LUCAS MIOTTO JOSÉ – as complicações das lesões causados por esforço repetitivo são: a dor crônica, que não melhora com tratamento; e, dependendo da articulação afetada, o possível desenvolvimento de algum grau de artrose na medida em que o envelope muscular não está forte o suficiente para aguentar os impactos e os movimentos do dia a dia, o que pode aumentar o processo inflamatório local e sobrecarregar as articulações, provocando o desgaste delas.

LER e DORT – o sedentarismo aumenta o risco de lesões por esforço repetitivo?

DR. LUCAS MIOTTO JOSÉ – um dos piores problemas da atualidade é o sedentarismo. Ainda mais durante a pandemia, em que uma grande parte da população ficou parada por conta das medidas de isolamento social que foram tomadas ao longo de todo esse tempo. Muitas pessoas que faziam antes alguma atividade física – seja caminhada, musculação, hidroginástica etc. – tiveram que interromper essa prática. No meu consultório, vieram muitas pessoas buscando alguma saída para uma dor nova ou alguma antiga que tinha se reativado porque elas ficaram paradas.

Quem já fez exercícios em academias sabe da dificuldade de ganhar massa magra, de formar musculatura. Pois isso demanda tempo, esforço e frequência de atividade. Entretanto, quando paramos de fazer algum tipo de atividade física de forma sistemática, a atrofia muscular vem rápido demais.

Não importa se você antes fazia exercícios e está parado há cinco anos, por exemplo. Você vai ser acometido pela doença do sedentarismo e isso afeta não somente a parte clínica, mas também de sustentação do nosso corpo, que são os ossos, músculos, ligamentos e articulações. Então, se a pessoa possui alguma estrutura inflamada, que a doença do esforço repetitivo pode promover, ela vai ter dor.

Eu, como cirurgião de coluna, acabo percebendo que muitas pessoas também chegam no meu consultório buscando, às vezes, alguma resposta para uma dor, jogando a culpa na hérnia de disco, a vilã dos problemas de coluna, só que muitas vezes aquela dor que desce para o glúteo, que irradia para a perna, é devida às lesões de inflamação da parte muscular que não está aguentando o dia a dia daquela pessoa, seja no esforço repetitivo ou no simples ato de fazer uma limpeza em casa.

Dr. Lucas Miotto José é médico ortopedista, tendo feito residência em ortopedia e traumatologia na Santa Casa de Misericórdia de Santos e especialização em cirurgia de coluna vertebral pela Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. O Dr. Lucas é membro das sociedades de ortopedia e coluna e atende pacientes na Clínica e Diagnósticos Leforte Morumbi nas quartas-feiras, na parte da tarde.

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Este conteúdo é meramente informativo e educativo, sendo destinado para o público em geral. Ele não substitui a consulta e o aconselhamento com o médico e não deve ser utilizado para autodiagnóstico ou automedicação. Se você tiver algum problema de saúde ou dúvidas a respeito, consulte um médico. Somente ele está habilitado fazer o diagnóstico, a prescrever o tratamento mais adequado para cada caso e acompanhar a evolução do quadro de saúde do paciente.

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Equipe Leforte

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