
Receber um resultado de exame com colesterol total acima de 200 mg/dL pode gerar preocupação, mas é o primeiro passo para a mudança.
Você pega o resultado do seu check-up anual, passa os olhos pelos vários itens e um número chama a atenção: colesterol total, 215 mg/dL. Imediatamente, a dúvida surge. Isso é muito alto? É perigoso? O que precisa ser feito? Essa é uma situação extremamente comum e entender o que esse valor significa é o primeiro passo para tomar as melhores decisões para sua saúde.
O que significa ter o colesterol total acima de 200 mg/dL?
Ter o colesterol total acima de 200 mg/dL indica que a concentração de gorduras no seu sangue está em um nível que merece atenção. A Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) classifica os valores de referência para a população geral, e um resultado acima deste marco é considerado "limítrofe".
É importante notar que, se o colesterol estiver muito alto e de forma persistente, pode ser um indício de Hipercolesterolemia Familiar (HF). Essa é uma condição genética que eleva significativamente o risco de desenvolver doenças cardiovasculares, como infartos e derrames, em idades mais jovens, e requer um tratamento intensivo e precoce.
Isso não é uma sentença de doença, mas sim um aviso. O corpo médico utiliza faixas para interpretar os resultados e guiar as condutas.
Veja como os valores são geralmente classificados para adultos:
Colesterol total:
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nível desejável: abaixo de 190 mg/dL
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nível limítrofe: 190 a 239 mg/dL
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nível alto: Acima de 240 mg/dL
Colesterol LDL (“ruim”):
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nível desejável: abaixo de 130 mg/dL*
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nível limítrofe: 130 a 159 mg/dL
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nível alto: acima de 160 mg/dL
Colesterol HDL (“bom”):
- nível desejável: acima de 40 mg/dL
*Vale dizer que a meta de LDL pode ser ainda mais baixa (abaixo de 100, 70 ou até 50 mg/dL) para pessoas com outros fatores de risco, como diabetes, hipertensão ou histórico de infarto.
Por que o colesterol total sozinho não conta toda a história?
O colesterol total é a soma de diferentes tipos de lipoproteínas no sangue. As duas mais importantes para a avaliação de risco são o LDL e o HDL. Entendê-las é crucial para compreender seu resultado.
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LDL (Low-Density Lipoprotein): Conhecido como "colesterol ruim", o LDL transporta o colesterol do fígado para as células. Em excesso, ele pode se depositar nas paredes das artérias, formando placas de gordura.
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HDL (High-Density Lipoprotein): Chamado de "colesterol bom", o HDL faz o caminho inverso. Ele remove o excesso de colesterol das artérias e o leva de volta ao fígado para ser eliminado.
Assim, uma pessoa pode ter um colesterol total de 220 mg/dL com um nível muito alto de HDL, o que representa um risco menor do que alguém com o mesmo colesterol total, mas com um nível elevado de LDL. A avaliação médica detalhada de todas essas frações é indispensável.
Quais são os riscos de manter o colesterol elevado?
O principal perigo do colesterol LDL elevado é o desenvolvimento da aterosclerose. Este é um processo lento e silencioso no qual placas de gordura, cálcio e outras substâncias se acumulam nas artérias, tornando-as mais estreitas e rígidas.
Com o tempo, essa condição pode levar a complicações graves, pois o fluxo sanguíneo para órgãos vitais fica comprometido. Os principais riscos associados são:
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Doença Arterial Coronariana: Causa dor no peito (angina) e pode levar ao infarto agudo do miocárdio.
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Acidente Vascular Cerebral (AVC): Ocorre quando o fluxo de sangue para o cérebro é interrompido.
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Doença Arterial Periférica: Afeta o fluxo sanguíneo para as pernas, causando dor ao caminhar.
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Risco precoce de infarto na Hipercolesterolemia Familiar: Para quem possui Hipercolesterolemia Familiar, o risco de um infarto fatal pode surgir antes dos 30 anos de idade, exigindo intervenção terapêutica já na primeira década de vida.
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Osteoporose em homens: Em homens adultos, níveis de colesterol total acima de 200 mg/dL (ou 5,20 mmol/L) também podem aumentar o risco de osteoporose e fraturas, tornando essencial um tratamento preventivo.
O colesterol alto apresenta sintomas?
Na grande maioria dos casos, não. O colesterol alto é conhecido como um "inimigo silencioso" justamente porque não costuma manifestar sintomas até que o dano às artérias já esteja avançado. Por isso, a única forma de saber como estão seus níveis é por meio de um exame de sangue solicitado por um médico.
Em situações raras, níveis geneticamente muito elevados de colesterol podem causar o aparecimento de xantomas, que são pequenos depósitos de gordura amarelados na pele, especialmente ao redor dos olhos ou nos tendões. Quando se trata de Hipercolesterolemia Familiar, uma forma grave e hereditária de colesterol alto, a identificação e o tratamento devem começar já na primeira década de vida para evitar o risco de infartos fatais antes dos 30 anos.
O que fazer ao receber um resultado de colesterol acima de 200?
O primeiro passo é não se desesperar, mas sim agir de forma consciente. Um resultado limítrofe é uma oportunidade para reavaliar e melhorar seus hábitos de vida. A conduta inicial geralmente envolve três pilares.
1. Consulte um profissional de saúde
Leve seu exame a um médico. Ele irá interpretar os resultados no contexto da sua saúde geral, considerando idade, histórico familiar, pressão arterial, presença de diabetes e outros fatores de risco para definir sua meta de colesterol e a melhor abordagem.
Se o colesterol estiver persistentemente alto, a avaliação médica se torna ainda mais crucial para investigar a possibilidade de Hipercolesterolemia Familiar, uma condição genética que, sem tratamento adequado, eleva drasticamente o risco de infartos e derrames em idades jovens.
2. Adote uma alimentação cardioprotetora
A dieta tem um impacto direto nos níveis de colesterol. A estratégia não é cortar totalmente as gorduras, mas escolher as gorduras certas e priorizar alimentos naturais.
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Aumente o consumo de: fibras solúveis (aveia, cevada, leguminosas), gorduras insaturadas (abacate, azeite de oliva, castanhas), peixes ricos em ômega-3 (sardinha, salmão) e alimentos ricos em fitoesteróis.
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Reduza o consumo de: gorduras saturadas (carnes gordas, laticínios integrais), gorduras trans (presentes em muitos alimentos ultraprocessados, como biscoitos recheados e salgadinhos) e açúcares simples.
Para pessoas com colesterol geneticamente alto, a gestão do peso e a redução da obesidade são passos fundamentais. Essas ações contribuem significativamente para diminuir o risco de doenças cardiovasculares e complementam o tratamento medicamentoso.
3. Incorpore a atividade física na sua rotina
O exercício físico regular é um dos métodos mais eficazes para aumentar o colesterol HDL ("bom") e ajudar a reduzir o LDL e os triglicerídeos. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda pelo menos 150 a 300 minutos de atividade aeróbica de intensidade moderada por semana.
Quando o tratamento com medicamentos é necessário?
A decisão de iniciar o tratamento com medicamentos, como as estatinas, depende da avaliação do risco cardiovascular global de cada paciente. Se as mudanças no estilo de vida não forem suficientes para atingir as metas de colesterol, ou se o risco inicial for considerado alto, o médico pode prescrever medicamentos.
É fundamental entender que os remédios são um complemento, e não um substituto, para uma rotina saudável. A combinação de tratamento medicamentoso e hábitos de vida adequados é a forma mais eficaz de proteger a saúde do seu coração.
Este conteúdo tem caráter informativo e não substitui avaliação médica. Em caso de dúvidas, procure um especialista habilitado.



