
A idade avança e as dúvidas sobre a saúde da mama também. Saiba como o cuidado é personalizado para garantir qualidade de vida.
Resumo:
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O risco de desenvolver câncer de mama aumenta progressivamente com a idade, sendo significativo após os 70 anos.
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A necessidade de mamografia de rastreamento é debatida e deve ser uma decisão individualizada, discutida com um médico.
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O conceito de superdiagnóstico (overdiagnosis) é um fator importante na decisão de continuar ou não o rastreamento.
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As opções de tratamento são personalizadas, considerando a saúde geral da paciente, tipo de tumor e expectativa de vida.
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A hormonioterapia é uma modalidade de tratamento comum e muitas vezes bem tolerada nesta faixa etária.
A rotina de exames anuais sempre esteve no calendário, mas ao passar dos 70 anos, uma dúvida comum surge durante a consulta: "Doutor, ainda preciso fazer mamografia?". Essa pergunta, longe de ser simples, reflete um debate complexo na medicina moderna sobre os cuidados com a saúde da mama na terceira idade.
O risco de câncer de mama realmente aumenta com a idade?
Sim, a incidência do câncer de mama aumenta de forma contínua com o envelhecimento. Segundo dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA), a maioria dos casos ocorre em mulheres a partir dos 50 anos, e o risco torna-se ainda mais expressivo nas décadas seguintes. O envelhecimento é, isoladamente, um dos principais fatores de risco para a doença.
Isso acontece porque, com o passar do tempo, as células do corpo acumulam mais mutações genéticas, algumas das quais podem levar ao desenvolvimento de um tumor. A longa exposição a hormônios como o estrogênio ao longo da vida também contribui para esse cenário.
A mamografia ainda é necessária após os 70 anos?
Esta é a questão central e não possui uma resposta única. As diretrizes de rastreamento variam entre as sociedades médicas, mas a maioria concorda que a decisão deve ser individualizada após os 74 anos, baseada em uma conversa franca entre a paciente e seu médico.
A recomendação oficial e o debate médico
No Brasil, o Ministério da Saúde recomenda a mamografia de rastreamento para mulheres entre 50 e 69 anos, a cada dois anos. A partir dessa idade, a recomendação é que a decisão seja compartilhada, levando em conta a saúde geral da mulher. Entretanto, estudos indicam que mulheres entre 70 e 74 anos podem se beneficiar da mamografia regular a cada dois anos para o rastreamento do câncer de mama. A principal razão para o debate é equilibrar os benefícios da detecção precoce com os potenciais riscos do diagnóstico.
O que é superdiagnóstico (overdiagnosis)?
Superdiagnóstico, ou overdiagnosis, é a detecção de um câncer que cresce tão lentamente que nunca chegaria a causar sintomas ou ameaçar a vida da paciente. Em mulheres mais velhas, a probabilidade de ter um tumor de crescimento lento é maior. O desafio é que, uma vez diagnosticado, é difícil diferenciar um câncer indolente de um agressivo, o que pode levar a tratamentos desnecessários, com seus próprios riscos e efeitos colaterais.
Como a decisão sobre o rastreamento é tomada?
A decisão de continuar ou interromper a mamografia de rotina deve considerar vários fatores em uma avaliação geriátrica ampla. O médico irá avaliar:
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Estado de saúde geral: a presença de outras doenças crônicas (comorbidades), como problemas cardíacas, diabetes ou demência.
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Expectativa de vida: a avaliação se baseia mais na saúde funcional do que na idade cronológica.
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Valores e preferências da paciente: o desejo da mulher de continuar o rastreamento e sua tolerância aos possíveis tratamentos.
Para uma mulher de 80 anos ativa e com boa saúde, os benefícios da detecção precoce podem superar os riscos. Para outra da mesma idade com saúde frágil, o foco pode ser a qualidade de vida, evitando exames e tratamentos que possam ser mais danosos que a própria doença.
Como o diagnóstico é realizado nessa fase da vida?
O processo diagnóstico do câncer de mama em mulheres idosas é semelhante ao de mulheres mais jovens. Ele geralmente envolve a identificação de uma alteração, seja pelo autoexame, exame clínico ou mamografia.
Se um nódulo ou área suspeita é encontrado, os próximos passos podem incluir:
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Mamografia diagnóstica: imagens mais detalhadas da área de interesse.
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Ultrassonografia mamária: ajuda a diferenciar cistos de massas sólidas.
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Biópsia: a remoção de um pequeno fragmento de tecido para análise laboratorial, que confirma ou descarta a presença de câncer.
Independentemente do rastreamento, é fundamental que a mulher conheça seu corpo e procure um médico ao notar qualquer alteração, como nódulos, mudanças na pele da mama ou no mamilo.
Quais são as opções de tratamento para o câncer de mama em idosas?
A idade, por si só, não é um impeditivo para o tratamento do câncer de mama. É importante ressaltar que os tratamentos para câncer de mama em idosas não se limitam apenas pela idade, mas sim pela avaliação da saúde geral da paciente. Ajustes nas doses e nas abordagens são cruciais para garantir a eficácia do tratamento e a qualidade de vida. O objetivo é oferecer a terapia mais eficaz com o menor impacto possível na qualidade de vida. As opções são sempre personalizadas.
Cirurgia
A cirurgia continua sendo a base do tratamento para a maioria dos tumores em estágio inicial. Pode ser uma cirurgia conservadora (quadrantectomia), que retira apenas o tumor e uma margem de segurança, ou uma mastectomia (retirada completa da mama). A decisão depende do tamanho do tumor e da saúde da paciente.
Radioterapia
Frequentemente recomendada após a cirurgia conservadora para reduzir o risco de o câncer retornar na mesma mama. Para mulheres mais velhas com tumores de baixo risco, em alguns casos, a radioterapia pode ser omitida, especialmente se a hormonioterapia for uma opção.
Hormonioterapia
Muitos tumores de mama em mulheres idosas são do tipo receptor hormonal positivo, o que significa que eles crescem estimulados por hormônios. A terapia hormonal bloqueia essa ação e é um tratamento muito eficaz e geralmente bem tolerado, sendo uma pedra angular no tratamento dessa população.
Quimioterapia e terapias-alvo
A decisão de usar quimioterapia é mais criteriosa. Ela é reservada para tumores mais agressivos. A avaliação do oncologista e do geriatra é crucial para pesar os benefícios contra os potenciais efeitos colaterais, que podem ser mais intensos em idosas. Terapias-alvo e imunoterapia são opções mais modernas, direcionadas a características específicas do tumor. Mulheres idosas com boa saúde geral podem, inclusive, receber imunoterapia para câncer de mama, apresentando resultados e efeitos colaterais semelhantes aos de pacientes mais jovens. Contudo, é fundamental uma avaliação geriátrica completa para assegurar a segurança e a adequação do tratamento.
O que é levado em conta na personalização do tratamento?
Para otimizar o cuidado do câncer de mama, é essencial que as diretrizes terapêuticas sejam adaptadas às necessidades individuais e ao contexto específico de cada paciente. O plano terapêutico é uma construção conjunta entre a equipe médica, a paciente e seus cuidadores.
É vital que centros especializados em câncer de mama integrem a oncologia geriátrica, garantindo cuidados abrangentes e totalmente adaptados às necessidades específicas das pacientes idosas. Conversar abertamente com o mastologista e o oncologista é o melhor caminho. A idade traz experiência e sabedoria, e essas qualidades são essenciais para tomar decisões de saúde que alinhem o melhor da ciência médica com o que realmente importa para viver bem.
Este conteúdo tem caráter informativo e não substitui avaliação médica. Em caso de dúvidas, procure um especialista habilitado.



